Com uma mensalidade de até R$ 2.140 mil e recusando a
matrícula de meninas, o Colégio São Bento, na capital fluminense, ficou
pela quarta vez na primeira colocação do Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem). A prova é aplicada pelo Ministério da Educação e avalia o
desempenho de estudantes da rede pública e privada em todo o país.
Administrado por monges beneditinos, o colégio ficou cerca de 300
pontos à frente do último colocado no estado - uma escola pública. A
Supervisão Pedagógica atribui o bom resultado ao ambiente de ensino "com
excelente professores" e à dedicação dos alunos, que têm aulas entre às
7h30 e às 16h30, durante a semana e, aos sábado pela manhã, longe de
meninas.
No entanto, a receita de sucesso do São Bento, que só aceitou
professoras na escola a partir da década de 1960, gera polêmica. Para a
professora da Universidade de São Paulo (USP), Cláudia Vianna,
especialista em gênero e educação, "não é possível desenvolver a
personalidade integral do aluno onde há segregação". Para ela, o método
do São Bento remete ao século 19.
"É muito complicado dizer que a segregação garante qualidade. Vivemos
num mundo misto que aliás, mostra que as meninas têm mais sucesso que os
meninos. Que desenvolvimento é esse que só dá certo quando eu separo?
Qual a mensagem que você passa? Como se propõe a prepará-los para o
mundo que é misto? Que principio é esse que não trabalha com o
heterogêneo?", questionou.
A supervisora do São Bento, a professora Maria Eliza Penna Firme
Pedrosa disse que aceitar meninas significaria alterar a identidade do
colégio e isso não está nos planos. "Os alunos e os pais estão
satisfeitos. Os meninos acham o ambiente confortável e não identificamos
prejuízo nenhum, já que os rapazes podem conviver com as meninas na
sociedade".
Os alunos também não reclamam da jornada de estudos, da proibição do
uso de adornos como piercings e acreditam que à dedicação os levará para
as universidade públicas, como é o caso do estudante de odontologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Eduardo Maroun. Para ele,
o São Bento ofereceu uma boa educação, com forte preocupação no caráter
do aluno.
"Claro que as mulheres distraem um pouco os homens", declarou. "Se você
tem uma namorada no colégio, fica com ela no recreio, vai para aula
pensando nela, normal para o ser humano. Mas o colégio não tendo isso,
ele [o aluno] fica mais focado. Isso é positivo porque você pode ter
contato com as garotas fora do colégio, no clube ou na faculdade".
O Colégio São Bento funciona há mais de 150 anos e já teve entre seus
alunos os compositores Heitor Villa-Lobos, Pinxinguinha e Noel Rosa, o
teatrólogo João Procópio Ferreira, o jornalista Paulo Francis, e o
escritor e humorista Jô Soares.
Agência Brasil
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